14
ago
2014
{Resenha} A cor do leite - Nell Leyshon - Bertrand Brasil
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(the color of milk)Nell Leyshon - Bertrand BrasilTradução: Milena Martins368 páginas - Ano: 2014 - R$25,00Sinopse:"indicada aos principais prêmios literários do planeta, tendo grande repercussão na mídia norte-americana e na europeia, nell leyshon surpreendeu a todos com a cor do leite. a protagonista mary apresenta uma história sensível de superação e de coragem, com um final que vai chocar até o mais frio dos leitores.1831. uma menina de 15 anos decide escrever a própria história. mary tem a língua afiada, cabelos da cor do leite, tão brancos quanto sua pele, e leva uma vida dura, trabalhando com suas três irmãs na fazenda da família. seu pai é um homem severo, que se importa apenas com o lucro das plantações. contudo, quando, mesmo sem querer, é enviada ao presbitério para cuidar da esposa do pastor, mary comprovará que a vida podia ainda ser pior.escrito em primeira pessoa e todo em letras minúsculas, o texto possui estrutura típica de quem ainda não tem o pleno controle da linguagem. a jovem narradora intercala a história com suas opiniões – considerados por alguns críticos os trechos mais angustiantes da obra."
Preciso começar esta resenha avisando que este livro é
completamente diferente de tudo que você já leu na vida e o final é bem
chocante. A autora mostrou a alma da personagem e todas as dificuldades que ela
enfrentou na fazenda e quando foi morar na casa do pastor. Este não é um livro
fofo, nem romântico. Eu diria que é um livro visceral, pois podemos ver os
instintos de uma menina que foi criada na fazenda em um ambiente horrível, em
uma época em que a mulher era desvalorizada e que ler e escrever eram praticamente
“pecado” entre os pobres que nasceram para trabalhar.
Gostei muito do ponto de vista e críticas da autora sobre a
mulher do século XIX. Já li muitos romances e dramas que não mostraram 1/3 do
que eu li em 205 páginas escritas em formato de diário por uma garota que não
sabe escrever corretamente. A
sensibilidade da autora em criar uma personagem tão diferente, tão irritante,
sofredora, astuta e marcante foi sensacional.
Tem momentos que você fica com pena da Mary, em outros você não compreende
de imediato, mas no final entende tudo e
fica chocado. Ao longo da leitura você está exposto a vários sentimentos
contraditórios. Eu senti raiva, pena, ódio, compaixão e muitos outros que não
sei nem explicar.
A cor do leite vai mexer com você e no final da leitura você
não será a mesma pessoa. Mary vai te
irritar no começo, pois escreve sem regras gramaticais, sem letra maiúscula,
sem pontuação, sem nada. Ela precisa desabafar
antes que seja tarde demais e para isso vai usar tudo que aprendeu para contar
o que realmente aconteceu em sua vida nos últimos meses.
O desejo de contar tudo que sabe, a marcação do tempo em
cada entrada de capítulo e a dureza da personagem misturada a uma inteligência sagaz
criaram um clima forte e tenso para a história. O leitor sente vontade de “salvar”
Mary e procura desesperadamente por uma solução para o seu sofrimento. Só que
ela é uma garota da fazenda que vive na pobreza e gosta do que tem. Ela não
quer ir para um lugar melhor e ficar longe da família. Ela quer continuar no
mundo em que considera perfeito. Trabalhar o dia todo, dormir e comer pouco,
viver em função das ordens do pai. Para Mary isso é o ideal, mas confesso que
fiquei muito agoniada com a sua personalidade. Eu queria que ela fosse
revolucionária, mas não foi e nem queria ser. Mary é uma personagem esperta e
dona de uma astucia incomum para as mulheres da época. Na metade do livro em
compreendi muito e aceitei a personagem.
Isso causa uma
inquietação boa no leitor e curiosa, porque foge do padrão de “mocinhas” dos
livros do século XIX. No final percebemos que nem tudo é encantado e que na
verdade é bem pior do que imaginávamos.
Eu gostei muito de ler este livro e queria agradecer a
editora pela oportunidade de apreciar esta leitura tão diferente e chocante.