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    21
    abr
    2015

    A Arma Escarlate - Renata Ventura

    "Todo mundo de vez em quando cede a uma tentação. O que diferencia as pessoas é o que elas fazem quando percebem que estão fazendo mal às outras."
    Idá, ou melhor dizendo Hugo, é um menino que nasceu e cresceu em meio a a violência, e ao descaso do governo na favela Dona Marta. Sendo obrigado a se acostumar às dificuldades de se morar em um morro, cheio de bandidos, e em péssimas condições, a personalidade de Hugo se molda para sobreviver a essa situação, e acaba se tornando um menino marrento, esquentadinho e que não leva desaforo pra casa. Ele sabe que tem que se mostrar o mais forte, sempre atacando primeiro e perguntando depois, e isso não muda quando descobre que é bruxo e vai parar na escola de bruxaria, Nossa Senhora do Korkovado, que fica bem no meio (literalmente) do Corcovado. 

    Apesar de ser uma escola de bruxaria, o fato de ser uma que fica no Brasil a torna exatamente como as outras escolas públicas do país: marcada pela incompetência, o descaso e o desrespeito que estamos acostumados a ver em se tratando de professores e alunos. E, como na maioria dos colégios públicos (e particulares) temos sempre aquele grupo que quer lutar contra o sistema, que vai contra as regras e que quer fazer o certo. E esse grupo são os Pixies, formado por três bruxos que adoram (e fazem) uma revolução, e que são alvo da admiração de Hugo, que se revolta quando descobre que mesmo sendo bruxo, a situação não é diferente da antiga escola dele. 

    Dizer que esse livro é inspirado em Harry Potter chega a ser ironia, mas é exatamente o que se espera quando pegamos o livro pra ler: uma história de Harry Potter no Brasil. Só que o livro vai muito além disso, e no fim, as semelhanças entre uma história e outra são meros detalhes, e descobrir isso durante a leitura me deixou com uma sensação de êxtase

    Hugo não é nada com Harry. Pelo contrário, ele é tão humano quanto nós. É um menino que acostumado a situação de uma favela se tornou seu próprio carrasco. É um menino que está acostumado a ver a morte, a violência sem ter ninguém que o amparasse, e que tem que proteger a si mesmo, e isso o marcou, o transformou em um menino com tantas qualidades quanto defeitos. É até difícil gostar dele e da atitude que mostra no começo do livro, do tom esnobe que usa, mas se torna compreensível se considerarmos sua história de vida. 

    Um ponto brilhante que a autora usou, e que fez toda a diferença nesse livro é o ambiente completamente real, e brasileiro que encontramos no livro. Está tudo lá, as mesmas razões que nos fazem sentir indignação aqui, faz Hugo (e outros personagens) sentir lá. 

    Ao longo da história e de todos os acontecimentos vemos Hugo cometer erros, e nos envolvemos tanto a ponto de querer dar uns tapas nele. Mas o impressionante é como ele cresce na história e como ele se parece real, tão real a ponto de eu ter certeza que existem muitos "Hugos" por aí nas favelas que não tem uma escola de bruxaria pra frequentar. 

    Outro fato que adorei é o modo como a autora consegue fazer o fato principal da história não ser a bruxaria e a escola em si, mas tudo que ela traz pra Hugo. Todas as questões humanas, sociológicas, a importância da amizade, a importância do meio em que vivemos e como ele nos afeta, os próprios conflitos internos do personagem, que são os mesmos de tantos outros por aí, tudo isso é o que a autora nos traz. São tantas mensagens bonitas e importantes que a autora nos passa por meio desse novo mundo que não dá nem pra contar. 

    Acho que o objetivo da autora de transformar o mundo de J.K pra um mundo próximo ao nosso foi mais que bem sucedido. Ela conseguiu deixar tudo mais real, mostrando tanto as coisas bonitas quanto as feias, e inseriu na nossa realidade de sociedade um mundo encantador, mas não sem seus defeitos. 

    Com uma narrativa fluida, e com uma certa dose de humor a autora nos leva pra um universo que podemos pensar já conhecer, mas que é totalmente diferente do que já lemos em HP. A cultura brasileira, e mais especificamente do Rio de Janeiro e suas comunidades estão muito bem expressas no livro, e é o que me fez amá-lo. É simplesmente sensacional ver esse mundo por uma ótica tão perto da nossa. Mais que recomendo esse livro, aos fãs de HP, tenho certeza que não vão se decepcionar. 

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    Beijos,